Nos últimos anos várias pesquisas sobre a satisfação do idoso estão
associadas à perda do controle emocional, sentimentos de solidão, sejam pela
perda do cônjuge ou a partida dos filhos, percepção de afastamento e desamparo,
incerteza em relação ao futuro, auto-exclusão, por não se achar apto a participar
da sociedade moderna, e o cotidiano imerso nos conflitos familiares, situações
características da mudança do seu estado anterior decorrente da perda da sua
autonomia e independência.
Talvez apenas para se ter um referencial ideal seja interessante pensar em
autonomia em termos de autodeterminação, liberdade pessoal, independência
física, liberdade de escolha e ação.
Como ocorre a muitos brasileiros, ele
não logrou transformar-se sequer num cidadão, como falar em autodeterminação?
Para que exatamente? Para eventos concretos, imediatos, práticos, de vidas
diárias, ligadas à sobrevivência física talvez.
Nem por isso se pode negar de que o idoso possa experimentar
sentimentos desfavoráveis por se ver perdendo essa independência, outrora
conquistada.
Os que têm a ventura de chegar à longevidade,
a chamada "velhice verde", sem maiores contratempos, quando integrados num
meio familiar acolhedor, sentem-se felizes e manifestam o desejo de continuar a
viver e desfrutar, da melhor forma possível, os dias que lhes sobram. Outros,
porém, que padecem de sofrimentos físicos, com dores e sem esperanças de
recuperar a saúde, confinados no leito ou em uma cadeira de rodas, só falam da
morte "próxima" como uma libertação para si e para seus familiares.
O fim da vida de entes queridos pode levar à chamada última solidão, que é um campo propício para
ao afastamento da realidade e reclusão, a auto-exclusão, que pode ser um fator de agravamento e
deterioração da condição psicológica, e porque não, com conseqüências
fisiológicas. Tal momento reflete em se pensar no resgate desses indivíduos,
especialmente os idosos, que perderam pessoas tão próximas ou companheiras, e
esse pode ser mais um fator de aproximação entre o idoso e sua família.
Estilo de vida, moradia, condições de vida, alimentação, estresse, saúde,
educação, trabalho, enfim, a multifatoriedade, segundo a história de vida do idoso,
são rastros de uma conseqüente idade. Deve-se
considerar que nos casos de pessoas constitucionalmente mais saudáveis ou que
cuidaram melhor de si mesmas ao longo dos anos, a velhice pode trazer
qualidades excepcionais de sabedoria, compreensão, paciência e tolerância. Nos
idosos que conseguem se manter jovens há de se considerar a rigidez de caráter
e de vida. As pessoas muito contidas e controladas são como velhos desde muito
jovens. Suas limitações psicológicas as impedem de perceber muitas das coisas
que as cercam ou se concentram muito em poucos tópicos dessa já limitada visão.
Por isso sua vida fica monótona, repetitiva e tediosa. Essas pessoas comunicam,
por simples presença, que tudo é aborrecido, velho, que as coisas são sempre
iguais e que todo interesse novo é uma ilusão. Ao contrário, o idoso jovem é
aquele que conseguiu preservar, por toda a vida, o que ele tem de criança. Entre
essas características "juvenis" está a criação de ligações afetivas com várias
pessoas e de interesses diversos, para que o ajude a manter-se vivo e jovem. Se
o idoso não cuidar de suas ligações familiares, de amizade e até amorosas, corre
o risco de se sentir verdadeiramente sozinho, muito próximo de abandonado por todos.
Os sentimentos que são desenvolvidos com respeito à solidão estão,
ligados às experiências que remontam à nossa infância.
Tudo o que acontece para um indivíduo – vivências, esperanças, angústia,
felicidade, dor, separações, perdas – vai ter um peso diferente conforme a idade
em que ele for atingido. A solidão será tanto maior quanto menores forem as
esperanças de reencontro, de novos relacionamentos, o que ocorre de uma forma
maior na velhice. O idoso não deve esperar que seus semelhantes (companheiro,
filhos ou sociedade) protejam-no da solidão: é necessário um preparo interior,
para fazer frente a esses diversos agentes causais.
Um outro aspecto, muito encontrado na terceira idade, até mesmo por
reflexões da sua solidão, é a preocupação com o que já passou, de maneira a
evitar as enganações às expectativas do que está vindo. O surgimento da solidão
está calcado no descarrilar do sentimento de sociedade. A massificação social
vem dando lugar a uma maior individualização e à dificuldade de encontrar um
companheiro para compartilhar os últimos anos de vida.
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